Entidades chamam Bolsonaro de 'agressor contumaz de profissionais da imprensa' e afirmam que, ao ofender colunista, ele 'incitou seguidores para que continuem atacando as mulheres'
28 de junho de 2022, 14:54 h Atualizado em 28 de junho de 2022, 15:41
Jair Bolsonaro e Patrícia Campos Mello (Foto: ABr | Reprodução/Twitter)
247 - A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) manifestaram apoio à jornalista Patrícia Campos Mello, que enfrenta Jair Bolsonaro (PL) na justiça após uma acusação do chefe do executivo de que a colunista oferecia sexo em troca de informações.
As entidades de imprensa consideram que o processo movido por Patrícia "supera em muito uma questão restrita a mais um ataque do presidente da República à liberdade de imprensa e à atividade jornalística." De acordo com a ABI e a FENAJ, "ao ofender a jornalista, sugerindo criminosamente que o êxito de seu trabalho dependeria de favores sexuais, o agressor contumaz de profissionais da imprensa incitou o seu entorno e os seus seguidores para que continuem atacando as mulheres."
O processo tramita em recurso na 8ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo e está suspenso até quarta-feira (29). Até o momento, foram dois votos favoráveis à jornalista e um favorável à defesa de Bolsonaro. Ainda restam os votos de dois desembargadores.
Patrícia Campos Mello foi responsável pela denúncia do esquema de financiamento e propagação de fake news a favor de Jair Bolsonaro na eleição de 2018. Quando foi atacada pelo atual chefe do executivo na última semana, afirmou em suas redes sociais que tomaria providências legais: "Na semana que vem, o Tribunal de Justiça de SP vai decidir se é aceitável que o presidente da República insinue que uma jornalista troca sexo anal por informção. A ofensa de Bolsonaro, ocorrida em frente ao Alvorada, foi postada por ele em redes sociais e vista por milhares."
Confira na íntegra a nota da ABI e da FENAJ:
ABI e FENAJ esperam que TJ-SP não se dobre ao poder político!
A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) acompanham com especial interesse o desfecho da ação movida pela jornalista Patrícia Campos Mello contra o senhor Jair Bolsonaro, agora em tramitação em recurso na 8ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, por considerarem que o processo supera em muito uma questão restrita a mais um ataque do presidente da República à liberdade de imprensa e à atividade jornalística.
Após receber dois votos favoráveis à jornalista e um que atende à defesa de Bolsonaro, o julgamento foi suspenso devendo retornar nesta quarta-feira (29/06) quando serão conhecidas as posições dos dois últimos desembargadores.*
Ao ofender a jornalista, sugerindo criminosamente que o êxito de seu trabalho dependeria de favores sexuais, o agressor contumaz de profissionais da imprensa incitou o seu entorno e os seus seguidores para que continuem atacando as mulheres.
O réu tentou amedrontar e subjugar a jornalista e o jornalismo que o incomodam para assim interditar informações que Patrícia Campos Mello divulga na Folha de S. Paulo sobre delitos graves cometidos pelos que o cercam muito de perto.
A ABI e a FENAJ estão certas de que não há como enquadrar essa agressão no conceito da liberdade de expressão. Não é do que se trata. É uma ofensa pessoal que busca atingir também os alvos preferenciais da insegurança do agressor.
O opressor reincidente de mulheres cometeu um crime que se reproduz cotidianamente com cúmplices de suas falas e atitudes políticas, na maioria das vezes contra profissionais da imprensa sem a visibilidade da jornalista e o alcance nacional da Folha de São Paulo.
Fazer justiça nesse caso é oferecer à jornalista, à imprensa e ao interesse público uma reparação concreta, junto com o sentimento de que o Judiciário não se dobra ao poder político de disseminadores do ódio, especialmente contra mulheres.
Rio de Janeiro, 28 de junho de 2022
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSA – ABI
FEDERAÇÃO NACIONAL DOS JORNALISTAS – FENAJ
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