“O lulismo sempre foi maior que o PT e mais ainda terá que ser nessa eleição absolutamente singular e determinante do futuro”, diz a jornalista Tereza Cruvinel
19 de janeiro de 2022, 20:12 h Atualizado em 19 de janeiro de 2022, 20:35
Lula (Foto: Ricardo Stucker
Por Tereza Cruvinel
"O PT é o meu partido mas eu quero ser candidato de um movimento pela restauração da democracia neste país". E este movimento, disse Lula na entrevista às mídias independentes, é que garantirá a reconstrução do país, a redução da pobreza e da desigualdade, a retomada do crescimento econômico e tudo o mais que é necessário para virarmos a página infeliz do governo Bolsonaro.
A meu ver, este foi um dos recados mais importantes do ex-presidente na entrevista retransmitida pela TV 247 e outros veículos digitais do campo progressista.
O lulismo sempre foi maior que o PT e mais ainda terá que ser nessa eleição absolutamente singular e determinante do futuro. A estruturação deste movimento, que eu chamaria de salvação nacional, passa pelas alianças mais amplas, passa pela escolha de um vice de centro ou centro-direita, passa pela aglutinação de forças que vão além do PT. Passa pelo diálogo com toda a sociedade, inclusive com o mercado, disse ele, mas levando em conta, primordialmente, aqueles que estão sobrevivendo em dificílimas condições — os trabalhadores, os pobres, os desempregados e os que enfrentam a pandemia sob a indiferença e o descaso do governo. Aliás, um dos mais momentos em que ele mais se exaltou foi ao falar das agruras sanitárias e da pobreza que grassa tanto quanto a variante ômicron.
Embora não tenha sido assim explícito, Lula sinalizou que este movimento que o levará à Presidência deve passar também pela devolução das Forças Armadas ao seu papel constitucional, valorizando-as como instituições do Estado, para lá destes fardados que foram para o governo Bolsonaro em troca de umas boquinhas. Lembrou ter tido com eles uma relação pacífica e disse ter certeza de que existem nas Forças Armadas muitos oficiais preocupados com a soberania e o interesse nacional.
E assim, juntando diferentes pontos da entrevista, vimos Lula acenar em todas estas direções.
Deixou claro que está disposto a ter Alckmin como vice, e que uma vez batido o martelo os rebeldes do PT acatarão a decisão, como (quase) sempre fizeram. Deixou claro que vai conversar também com Gilberto Kassab, do PSD, avançando em busca de apoios mais conservadores ainda para garantir a ampliação do movimento "volta Lula" e a futura governabilidade.
Disse não acreditar que Bolsonaro tentará um golpe contra o resultado da eleição. Que pode até sair pelos fundos do Palácio, como fez Figueiredo, o último ditador, mas que quem ganhar vai tomar posse e vai governar. Aleluia.
E, também por tudo o que disse e não disse, viu-se que, embora alegando que ainda não é candidato, tem pronto o roteiro de campanha e as linhas fundamentais do que fará no governo para tirar o país do atoleiro em que chafurda em todas as áreas: na economia, na questão sanitária, na questão ambiental, no retrocesso industrial, na política externa e tudo o mais.
Bolsonaro tem todas as razões para estar nervoso, escalando Ciro Nogueira como porta-voz do terrorismo eleitoral, que esbarra num fato elementar: Lula já foi testado no governo, tem legado e o povo tem memória.
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