Paulo Motoryn
Brasil de Fato | Brasília (DF) |
13 de Março de 2023 às 13:10
Pelotão de 120 militares do Grupamento de Fuzileiros Navais foi destacado para defender Ministério da Defesa e Comando da Marinha - Divulgação
Um pelotão de 120 militares do Grupamento de Fuzileiros Navais de Brasília atuou na proteção dos prédios do Ministério da Defesa e do Comando da Marinha na Esplanada dos Ministérios, no dia 8 de janeiro de 2023, durante os ataques golpistas promovidos por bolsonaristas na Praça dos Três Poderes, no Distrito Federal.
Convocados às pressas diante dos atos de destruição nas dependências do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF), os fuzileiros navais foram orientados a dar preferência à atuação nas instalações ligadas aos militares, em detrimento dos prédios invadidos por golpistas.
O Brasil de Fato obteve junto ao governo federal, por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), a lista de pessoas que ingressaram no prédio do Ministério da Defesa em 8 de janeiro. A consulta revelou, inicialmente, a presença de 80 fuzileiros navais na Esplanada dos Ministérios, protegendo o bloco ocupado pelo Ministério da Defesa.
Questionado pela reportagem se, além da proteção ao Ministério da Defesa, o Grupamento de Fuzileiros Navais atuou na proteção de algum outro prédio público na região central de Brasília, o Comando da Marinha revelou que outros 40 homens se dedicaram a proteger o prédio da própria Marinha, no Bloco C da Esplanada dos Ministérios.
O posicionamento dos fuzileiros navais nos prédios da Defesa e da Marinha chama a atenção, já que não foram registrados ataques ou mesmo tentativas de ataques nos edifícios de natureza militar no dia 8 de janeiro. Enquanto isso, os Três Poderes sofreram avarias que, segundo cálculos da Advocacia-Geral da União (AGU), somam prejuízo de pelo menos R$ 10 milhões – além, é claro, do abalo democrático.
Depois de obter a informação sobre a presença de militares da Marinha no dia 8 de janeiro, o Brasil de Fato fez as seguintes perguntas ao Ministério da Defesa: i) quantos militares das Forças Armadas foram convocados para atuar nos atos?; qual foi a atuação e o local em que atuou cada um dos pelotões?; e iii) quem foi o responsável pela convocação dos pelotões das Forças Armadas?
Por meio de contato telefônico, a assessoria de imprensa da Defesa orientou a reportagem a procurar o Gabinete de Segurança Institucional e o próprio Comando da Marinha, pois alegou não ter a informação. Questionado, o GSI disse que os episódios de 8 de janeiro são tema de processos que correm no Poder Judiciário e que os detalhes da atuação do órgão na data serão concedidos nos autos processuais. A Marinha não respondeu.
Para comparar o número de homens da Marinha e de outras forças de segurança, o Brasil de Fato também procurou o Comando do Exército. Na resposta, a assessoria de imprensa afirmou: "O caso está sendo apurado pelas autoridades competentes. A Instituição segue à disposição dos Órgãos que apuram os fatos, a fim de contribuir com as investigações, sendo que quaisquer esclarecimentos solicitados serão prestados exclusivamente a eles. Nesse contexto, a Força Terrestre tem proporcionado total apoio para o esclarecimento de todos os fatos".
Dúvidas sobre os militares
Apesar da ausência da informação precisas sobre a atuação das Forças Armadas no dia 8 de janeiro, a falta de presença ostensiva de militares na proteção da Praça dos Três Poderes é alvo de críticas por uma suposta leniência. Na semana passada, um depoimento obtido pela repórter Carolina Brígido, colunista do site UOL, relata que um servidor da Polícia Federal que estava no Palácio do Planalto durante os ataques de 8 de janeiro disse que militares escoltaram os golpistas que depredaram o local até a saída de emergência, para evitar que fossem presos.
O depoimento – e a revelação sobre a convocação de militares da Marinha no dia 8 de janeiro – engrossa uma série de dúvidas que pesam sobre os militares. Três Inquéritos Policial-Militares (IPMs) foram encaminhados pelo Ministério Público Militar ao STF. Um deles, segundo apurou uma reportagem do UOL, investiga a atuação da tropa do Exército de plantão no Planalto no dia da invasão, mais especificamente a postura de integrantes do Regime de Cavalaria de Guarda e do Batalhão da Guarda Presidencial, compostos por militares da ativa.
Edição: Nicolau Soares
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