© Tânia Rego/Agência Brasil/Fotos Públicas
Em meio à crise na Europa e ao aumento do custo de vida local, o número de brasileiros pedindo ajuda ao consulado do Brasil em Portugal para regressar ao país de origem mais que triplicou. Para discutir a questão, a Sputnik Brasil ouviu um economista que explicou por que a situação pode piorar.
Conforme publicou o jornal Folha de S. Paulo, o número de pedidos de ajuda de brasileiros ao consulado do país em Portugal chegou a 687 entre janeiro e outubro deste ano. Ao longo de todo o ano passado foram 219 pedidos, enquanto em 2020 houve 709.
O aumento pode estar relacionado à inflação portuguesa, que atingiu o nível mais elevado em 30 anos. A expectativa é que a situação dos preços piore ainda mais com a chegada do inverno europeu. O país, que ainda se recupera de uma queda de 8,4% no PIB em 2020 em meio à pandemia da COVID-19, enfrenta agora efeitos da crise global diante das sanções econômicas contra a Rússia.
Conforme dados provisórios do Instituto Nacional de Estatística (INE), a inflação em Portugal chegou a 8,7%, o maior patamar desde 1992. Os preços de energia são os principais vilões do índice, com uma variação positiva de 31,7%, ainda segundo o INE. Esse é o pior resultado desde agosto de 1984.
Fábio Sobral, professor de economia e economia ecológica da Universidade Federal do Ceará, aponta que as perspectivas para imigrantes no continente europeu devem se deteriorar em meio a esse cenário.
“A vida dos imigrantes na Europa tende a piorar muito, pois o encarecimento do preço da energia não só faz com que a conta de energia dos domicílios se eleve, mas que os custos de energia do processo produtivo das indústrias, do setor de turismo, do setor de serviços, também cresçam. Com os custos ficando mais altos, as taxas de lucro diminuem imediatamente e os empregos começam a ser cortados”, afirma Sobral em entrevista à Sputnik Brasil.
Para o pesquisador, com a precarização da situação global, há uma tendência de aumento do desemprego, da inflação e dos preços. Nesse contexto, Sobral alerta para o risco de crescimento da xenofobia, racismo e da discriminação contra imigrantes.
“Se aproxima também uma grave crise internacional devido a esses mesmos elementos — custos de energia, inflação, diminuição dos empregos, elevação da taxa de juros pelo Banco Central norte-americano”, alerta.
Em busca de qualidade de vida, imigrantes enfrentam dificuldades
Conforme o economista Fábio Sobral, os imigrantes brasileiros em Portugal são compostos principalmente por aposentados em busca de mais qualidade de vida e pessoas que buscam emprego no país europeu.
“Os dois grupos são profundamente afetados pelos preços. Há uma margem muito tênue, a inflação na Europa é muito alta e tende a piorar. Além disso, pode haver, em certos grupos de brasileiros, uma perspectiva de que o novo governo eleito no Brasil possa fazer com que a economia retome o seu dinamismo. Então pode haver um certo desencantamento com a realidade econômica financeira em Portugal, de qualidade de vida, e uma certa perspectiva de dinamismo, principalmente por parte daqueles que foram buscar emprego”, avalia.
O presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Souza, se reúne com o presidente eleito do Brasil, Lula (PT), no Palácio de Belém, em Lisboa, 18 de novembro de 2022
O pesquisador Fábio Sobral aponta que os principais problemas práticos que esses brasileiros poderão enfrentar como imigrantes são os custos de energia, moradia e alimentação, além de eventuais problemas causados pela desvalorização do real.
“Esses três custos estão variando para cima, estão sofrendo um processo inflacionário forte na Europa, próximo de 10%. E isso pode desequilibrar as contas familiares. Além disso, o dólar e o euro se valorizaram frente ao real. Então uma pessoa aposentada que recebe seu salário em reais e tem que converter para euros, com a desvalorização do real vê uma perda em sua renda. Somente uma valorização do câmbio brasileiro, ou seja, o real conseguindo se revalorizar frente ao dólar e o euro, permitiria a essas pessoas recuperarem sua capacidade de compra”, aponta.
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