Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.
14 de fevereiro de 2022, 09:29 h Atualizado em 14 de fevereiro de 2022, 09:33
Manifestantes Bolívia (Foto: Helena Iono
Por Moisés Mendes, do Jornalistas pela Democracia
A Bolívia continua nos enviando informações que servem para muita coisa. Uma notícia dos últimos dias deve ser bem avaliada por candidatos a ajudante de golpista que pretendam embarcar em novas versões da facada de Adélio Bispo.
Dois altos ajudantes fardados bolivianos finalmente admitiram que participaram do golpe de 2019 contra Evo Morales, quando os generais foram empurrados para a confusão de um motim da Polícia Nacional, incentivado por golpistas civis.
Os que decidiram falar são os ex-comandantes da Força Aérea, Gonzalo Terceros, e da Marinha, Palmiro Jarjuri Rada. Eles estão presos e estão sendo processados. Pediram ao Ministério Público um julgamento abreviado.
Significa que vão confessar os crimes de cumplicidade com motim, atentado contra a democracia e golpe, apontar cúmplices e fazer um acordo com MP e Justiça para conseguir uma redução da pena.
Falta a confissão do ex-chefe do Exército, Jorge Mendieta. Todos eles estavam ao redor de William Kaliman, chefe das Forças Armadas, no momento em que o general leu o manifesto dos militares para que Morales renunciasse, no dia 10 de novembro de 2019.
Jeanine Añez, a ex-senadora usada como laranja dos golpistas e que assumiu o governo no lugar de Morales, está presa desde março do ano passado e entra nesta segunda-feria no quinto dia de greve de fome.
Há um mês, Evo Morales contou mais um detalhe do estado de golpe permanente na Bolívia. Na eleição de outubro de 2020, quase um ano depois da trama que o derrubou, a direita articulou mais um ataque à democracia.
Militares da Força Nacional (que é a polícia militar federal fardada deles) atentariam contra prédios públicos em Santa Cruz de la Sierra, agindo como se fossem milicianos. Não usariam fardas e seriam comandados por civis.
O plano não deu certo, porque os soldados-milicianos não quiseram correr o mesmo risco de 2019, quando fizeram um motim e criaram o caos que levou à deposição de Morales.
Os chefes da Polícia Nacional estão presos. Estão encarcerados os líderes de milícias civis armadas. E os cabeças civis do golpe estão soltos, entre os quais o Bolsonaro deles, Luis Fernando Camacho, governador de Santa Cruz de la Sierra.
Camacho, os fazendeiros, os banqueiros, a burguesia empresarial, todos abandonaram os generais, os oficiais da Polícia Nacional, os milicianos militarizados e Jeanine Añez.
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Ainda fazem jogo de cena, como se estivessem ao lado dos que tombaram, e
agem sem parar na articulação de um novo golpe, agora contra Luis Arce, eleito em 2020 pelo Movimento ao Socialismo de Morales.
Tudo porque Camacho tem imunidade. Em março do ano passado, enquanto Añez e os generais eram presos, Camacho era eleito governador de Santa Cruz, o Estado do latifúndio, dominado por direita e extrema direita.
Os civis têm um poder que os golpistas militares, tanto das Forças Armadas quanto da Polícia Nacional, não conseguiram ter. A lição, mais uma vez, é esta: na hora da verdade, os líderes dos golpes abandonam os mandaletes.
E, para relembrar, Williams Kaliman, o chefe das Forças Armadas, continua foragido. Foi o único chefe militar que fugiu. Todos os outros estão presos. Na Bolívia, ajudantes de golpistas pegam cadeia e viram cães sem serventia.
Fonte: https://www.brasil247.com/blog/mais-algumas-licoes-para-ajudantes-de-golpistas
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