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Leonardo Attuch
Leonardo Attuch é jornalista e editor-responsável pelo 247.
"A agressão a Dilma é o pedágio pago por Ciro Gomes aos golpistas de 2016 para ser o candidato da direita no próximo ano, caso Jair Bolsonaro não consiga chegar ao segundo turno", diz o jornalista Leonardo Attuch, editor do 247
14 de outubro de 2021, 01:52 h Atualizado em 14 de outubro de 2021, 01:52
Jair Bolsonaro com apoiadores, ex-ministro Ciro Gomes e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Reprodução | ABr)
O candidato Ciro Gomes, do PDT, tentará ser, em 2022, o que Jair Bolsonaro foi em 2018: o candidato da misoginia, das fake news e do discurso de ódio. Só isso explica sua manobra mais arriscada, que foi a entrevista concedida ao jornal Estado de S. Paulo, em que espalhou uma mentira tosca (a de que o ex-presidente Lula teria conspirado para derrubar a ex-presidente Dilma Rousseff) e também agrediu Dilma de forma covarde, provocando reações indignadas de lideranças como Mônica Benício, viúva de Marielle Franco, Jandira Feghali e Luciana Boiteaux, que condenaram sua misoginia e seu machismo.
Assessorado pelo marqueteiro João Santana, o movimento queima de vez as pontes do cirismo com a esquerda e com todas as mulheres que lutam por democracia no Brasil, mas tem uma certa lógica. Com índices que variam entre 5% e 10%, a depender da pesquisa, Ciro bloqueia o crescimento da terceira via dos sonhos do mercado, que seria a candidatura do PSDB, seja ela com João Doria, governador de São Paulo, ou com Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul. Sua nova aposta parece ser a de que Jair Bolsonaro continuará derretendo e de que ele não será candidato ou será ultrapassado por ele próprio. Só isso explica a afirmação de que se arrepende por não ter apoiado o golpe de 2016, contra a ex-presidente Dilma.
Explico melhor: defender o golpe de 2016, que mudou a política de preços da Petrobrás e atirou milhões de brasileiros numa situação de fome e miséria, é um ponto de honra para as elites golpistas do Brasil, que lideraram a campanha antidemocrática de cinco anos atrás, em associação com setores do capital financeiro internacional. Ao assumir sua nova posição, Ciro beijou a cruz da Faria Lima para tentar se viabilizar como o adversário de Lula em 2022.
É uma aposta de altíssimo risco e que provavelmente fracassará, porque Ciro só será aceito pela direita brasileira caso seja a última carta disponível no baralho. Além disso, seus métodos claramente bolsonaristas constrangem aliados e dificultam acordos com nomes do Psol e do PSB, que ainda não fecharam com Lula. E mesmo que Ciro consiga suplantar Bolsonaro, o que hoje parece altamente improvável, suas chances de sucesso contra Lula parecem diminutas. É possível até que, dado o comportamento irascível e imprevisível de Ciro, setores da burguesia prefiram um terceiro mandato de Lula, que já é conhecido, moderado e hoje busca alianças com o chamado "centro".
De positivo, a entrevista de Ciro serviu apenas para rasgar sua fantasia. Jair Bolsonaro é um Bolsonaro já conhecido. Ciro Gomes é um Bolsonaro que se travestia de progressista. Melhor que ele já tenha se assumido como realmente é, para que não alimente mais ilusões em setores nacionalistas ou da esquerda brasileira.
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