por De Olho nos Ruralistas — publicado 15/12/2016 09h26
Relatório da Oxfam revela dívidas astronômicas que, se pagas, assentariam 214
mil famílias; e o governo Temer quer anistiar o setor
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O agronegócio leva nas costas, como alegam seus defensores, as contas do
Estado brasileiro? Segundo o relatório Terrenos
da desigualdade: terra, agricultura e desigualdade no Brasil rural,
publicado pela Oxfam, não. Dados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional
mostram que 4.013 pessoas físicas e jurídicas detentoras de terra devem 906
bilhões de reais, uma dívida maior que o PIB de 26 estados.
O montante é equivalente a metadedo que todo o estado brasileiro arrecadou em
2015. Ou aproximadamente 22 "petrolões".
Cada um dos 4.013 devedores tem dívidas acima de 50 milhões de reais. Segundo
dados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra),
há um grupo ainda mais seleto de 729 proprietários que declararam possuir 4.057
imóveis rurais, somando uma dívida de 200 bilhões de reais. As terras
pertencentes a esse grupo abrangem mais de 6,5 milhões de hectares, segundo
informações cadastradas no Sistema Nacional de Cadastro Rural.
O Incra estima que com essas terras seria possível assentar 214.827 famílias
– considerando o tamanho médio do lote de 30,58 ha/famílias assentadas. Em
outras palavras, seria possível atender, com as terras dos maiores devedores do
Estado brasileiro, o dobro das 120 mil famílias que estavam acampadas demandando
reforma agrária em 2015.
Em vez de cobrar os débitos, porém, o
governo Temer editou em junho a Medida Provisória nº 733, concedendo mais
privilégios ao setor. Segundo o relatório da Oxam, a MP permite que produtores
rurais inscritos em Dívida Ativa da União e com débitos originários das
operações de securitização e Programa Especial de Saneamento de Ativos liquidem
o saldo devedor com bônus entre 60% a 95%. Por exemplo, dívidas acima de 1
milhão de reais devem ter descontos de 65%.
Injustiça fiscal com desoneração
O relatório aponta outra peculiaridade: a isenção de diversos impostos. A Lei
Kandir, editada em 1996, isentou o pagamento de ICMS
aos produtos primários e produtos industrializados e semielaborados destinados à
exportação. Segundo o relatório, essa desoneração gera perdas em torno de R$ 22
bilhões por ano aos estados. Com promessa de ressarcimento.
Entretanto, só são ressarcidos 12% da isenção. Em 2014, a bancada ruralista
emplacou mais uma benesse fiscal para o setor: a isenção de 9,25% na cobrança do
PIS e Confins na venda de soja para todos os fins comerciais.
O relatório alerta também para a ineficácia do Imposto sobre a Propriedade
Territorial Rural (ITR), principal tributo no meio rural brasileiro. Apesar da
progressividade do imposto em relação ao tamanho e utilização do terreno, a
cobrança é responsável por apenas 0,0887% da carga tributária em 2014,
porcentual médio constatado desde os anos 1990.
A injustiça fiscal do ITR fez com que os grandes e médios proprietários
passassem a pagar menos imposto por hectare, caindo a média de 1,59 real por
hectare em 2003 para 1,52 real em 2010, segundo os dados das áreas totais
cadastradas no SNCR.
Ligada à Universidade de Oxford, a Oxfam está presente em 94 países.
Para ler mais detalhes do relatório Terrenos da desigualdade: terra,
agricultura e desigualdade no Brasil rural acesse
aqui.
http://www.cartacapital.com.br/blogs/outras-palavras/proprietarios-de-terra-devem-quase-r-1-trilhao-a-uniao
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