Prestes a assumir a Funai, ela anunciou a ação da Polícia Federal e dos militares na região
Lula e Joênia Wapichana (Foto: Reuters/Mohammed Salem)
BRASÍLIA (Reuters) – O governo federal está preparando uma força-tarefa com Polícia Federal, Forças Armadas, Ibama, Funai e vários ministérios que lançará em breve uma operação para remover garimpeiros ilegais da reserva yanomami, disse a líder indígena Joenia Wapichana nesta terça-feira.
Wapichana se tornará em poucos dias a primeira indígena a chefiar a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) após ser nomeada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se comprometeu a expulsar os garimpeiros das terras protegidas.
Falando a jornalistas na plataforma de jornalismo amazônica Sumaúma, Wapichana disse que não poderia dar detalhes sobre a operação iminente para não alertar os garimpeiros que invadiram o território yanomami.
"Já se preparam para agir. Temos que deixar que as forças policias se organizem. Mas o recado do presidente Lula é que vai ser em breve e que não pode demorar muito", disse.
Wapichana disse que a força-tarefa, como em ofensivas anteriores contra garimpeiros ilegais, envolverá a Polícia Federal, as Forças Armadas, o Ibama, vários ministérios e a própria Funai.
Cerca de 20 mil garimpeiros estão em busca de ouro na maior reserva indígena do Brasil, no Estado de Roraima, na fronteira com a Venezuela. Eles poluíram as águas com mercúrio usado para separar o metal precioso, provocando uma crise sanitária entre os indígenas, dizem as autoridades.
Os garimpeiros estão cada vez mais associados a gangues bem armadas que aterrorizaram comunidades indígenas que pela primeira vez não conseguem se alimentar, resultando em desnutrição generalizada e mortes entre os 28 mil membros da etnia yanomami.
O Ministério da Saúde declarou na semana passada uma emergência médica no território yanomami, e na segunda-feira o governo ordenou restrições sobre o espaço aéreo da reserva e medidas para bloquear o tráfego fluvial em direção a garimpos de ouro.
Wapichana disse que cerca de 40 pequenos aviões voam para pistas de pouso clandestinas todos os dias com alimentos e outros suprimentos, e a ajuda da Força Aérea é necessária para interromper os voos, que o governo anterior, de Jair Bolsonaro, não fez nada para impedir, segundo ela.
Os garimpeiros usam os rios para levar maquinário mais pesado e combustível para seus garimpos, que são lagoas lamacentas onde dragam ouro em clareiras da floresta.
Estudos médicos mostram que o mercúrio usado pelos garimpeiros poluiu os rios, matando os peixes e contaminando a água da qual os yanomami dependem.
Wapichana disse que o governo agirá contra o crime organizado e os grupos financeiros que fornecem e financiam a mineração ilegal e lavam o ouro.
O ex-presidente Bolsonaro defendeu a mineração em terras indígenas protegidas, e seu governo fechou os olhos para invasões de reservas indígenas por garimpeiros e madeireiros ilegais.
Wapichana está confiante de que os militares brasileiros obedecerão às ordens de Lula para reprimir o garimpo ilegal em terras protegidas pela Constituição, apesar de muitos deles serem apoiadores de Bolsonaro.
"Estamos em uma nova era. Nosso país está sendo reconstruído. Nós temos um presidente que é forte e responsável, que teve a coragem de ir lá em Roraima e falar que vai sair a operação, e tem afirmado que não vai haver garimpo em terra indígena", afirmou.
Ela disse que os responsáveis pela crise humanitária que os yanomami estão sofrendo serão punidos por negligência e talvez por cometer genocídio.
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