Engana-se quem imagina que os movimentos de ataque ao PT, patrocinados pela aliança jurídico-político-midiática conservadora, nos últimos anos atingiram apenas o partido de Lula. Engana-se quem considera o PSDB, ou em menor grau o PSB, como dois grandes vitoriosos desse processo eleitoral que se finda.
Este movimento conservador atingiu o seu real e inconfessável objetivo: criminalizou a política, afastando-a ainda mais da população. Esse processo feriu de morte a democracia representativa brasileira como um todo.
Hoje o PT foi para a cruz a mando de Pilatos que ao mesmo tempo absolve o PSDB - como fez com Barrabás. Mas esta absolvição terá resultados breves, pois se não pela república de Curitiba o povo já está dando o seu recado que em breve não sobrará pedra sobre pedra.
E para isso basta olharmos os resultados das eleições e vermos que as manchetes tendem a fazer o mais fácil e falar quem ganhou. Vejamos, contudo, como ganharam. E para ilustrar - e só a título de ilustração mesmo - vou usar dois exemplos: a minha São Bernardo e a capital Curitiba.
A eleição em dois turnos se justifica, como bem pensaram os legisladores, para que maiorias sejam construídas naqueles colégios eleitorais maiores. Não foi isso que se verificou no último dia 30.
Vamos ao exemplo de São Bernardo do Campo. Temos hoje em torno de 612 mil eleitores inscritos, aptos a votarem. O prefeito foi eleito em segundo turno no último domingo com exatos 213.661 votos. Isso, arredondando, representa em torno de 34% dos eleitores ou 26% da população total (estimada em 817 mil).
Menos do que os 255 mil que não foram votar ou não votaram em nenhum dos candidatos no segundo turno. Isso quer dizer que de cada três eleitores são-bernardenses dois não escolheram o prefeito eleito. E essa realidade não é exclusiva de São Bernardo.
Curitiba traz resultados bastante parecidos. O prefeito eleito, Rafael Greca (PMN), venceu com 461.736 votos, o que representa 35% dos 1.289.204 eleitores curitibanos. Quase o mesmo número daqueles que não escolheram nenhum dos dois candidatos no segundo turno.
Esses números demonstram o tiro de morte dado em nossa democracia representativa. O exagero das ilações, chamando de uma coisa o que é outra, apenas coloca uma falsa capa sobre a política afastando ainda mais a população. E onde não se tem democracia representativa impera o autoritarismo e as aventuras. Esse é o quadro que alguns surrealistas às avessas pintam no cenário brasileiro. Perde com isso a boa política, perde o povo, perde a democracia.
Está mais do que na hora de todos pensarmos para onde estão levando nosso País.
Luiz Marinho, Prefeito de São Bernardo do Campo
http://www.brasil247.com/pt/colunistas/geral/263444/A-democracia-representativa-agoniza.htm
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