Ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, o jurista Nelson Jobim, que foi
ministro de Estado em governos do PT e PSDB, criticou na última terça-feira, 21,
a caçada judicial contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com o
objetivo de torná-lo inelegível para as eleições de 2018.
"Qualquer tipo de linha de proibição [contra a candidatura de Lula], nós
aguçamos a radicalização. Nós podemos impedir, agora, que ele seja candidato?
Por quê? Porque temos medo de que seja eleito?", questionou Jobim, durante
palestra em homenagem ao economista boliviano Enrique García Rodríguez, que
depois de 25 anos está deixando a presidência do Banco de desenvolvimento da
América Latina (CAF), na Fundação Getulio Vargas, em São Paulo.
"Se nós o proibirmos de ser candidato, estamos fazendo a mesma coisa que
fizeram os militares. Contra nós! Nós não gostamos, naquela época", acrescentou
Jobim.
Nelson Jobim defendeu que houvesse esforços para a paz entre Lula e o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, para evitar um "Trump tropical".
"Os personagens de oposição e os da situação precisam ter pelo menos um
mínimo de entendimento, sem renunciar a suas disputas eleitorais, evidentemente,
para assegurar uma eleição em 2018 minimamente razoável. Senão, vamos ter um
Trump caboclo. Um Trump caboclo que pode ser tanto da direita como da esquerda.
O grande problema que se enfrenta é que se introduziu dentro do processo
político brasileiro algo completamente inusitado ou desconhecido. A intolerância
e o ódio, que inviabilizam o diálogo. Em política, não se escolhe o
interlocutor. Não se faz política sem considerar o entorno. O entorno é o que
está aí, e não aquilo que desejaríamos que fosse. Quer queira, quer não, para
construir a tal pinguela, a tal ponte, o diálogo tem de botar na mesa tanto
Fernando Henrique como Lula. Se de um lado FHC tem densidade moral, Lula tem
densidade eleitoral", afirmou.
O ex-ministro do STF criticou membros da Suprema Corte, que, segundo ele,
estão preocupados com a própria biografia do que com o futuro do País. "Todos
que foram indicados a membros do [Supremo] Tribunal [Federal] tinham uma relação
direta ou indireta com o presidente que os indicou. A diferença não está na
origem da indicação, está na origem da relação. Uns tinham sua relação a partir
de sua biografia. Outros só tinham relações. Aqueles que só tinham relações
passaram a necessitar do Tribunal par fazer a sua biografia. Ponto. Aí você
identifica, digamos, os problemas.", afirmou.
http://www.brasil247.com/pt/247/brasil/286787/Jobim-n%C3%A3o-podemos-impedir-a-candidatura-Lula.htm
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