Quem contou esta história, através de um comentário sensato sobre o valor do CW nas comunicações “difíceis” – onde até o SSB falha – e que constitui a razão de as convenções internacionais exigirem sempre o conhecimento do código Morse por parte de todos os Radioamadores foi um exemplar Radioamador de Fortaleza, já falecido, o PY7 VP, Moacyr Porto.
Moacyr, ou “TIJUBINA”, como era conhecido entre os Radioamadores, era, de profissão, tradutor comercial da língua inglesa, por isso, em seus comunicados falava fluentemente o inglês.Era um colega muito vibrador com o Radioamadorismo, dominava bem a eletrônica, a qualquer hora da noite que acordava, a primeira coisa que fazia era ligar o seu transceptor, que ficava na cabeceira de sua cama, para ouvir o que se passava nas faixas e até mesmo se enfiar num QSO, quando o assunto era bastante interessante, quer em fonia, ou telegrafia. Debaixo da sua cama eu vi umas 15 ou mais lâmpadas ligadas em série, que ele mesmo construiu, para esquentar o seu espinhaço, pois ele sofria de lombalgia crônica e o melhor remédio que ele mesmo descobriu foi o calor de lâmpadas acesas debaixo da cama dele.
Ele contou, que certa vez acordou, pela madrugada e quando ligou o transceptor “corujou” um QSO entre dois americanos, um na Austrália e outro nos EEUU. O assunto era de uma geladeira que o americano da Austrália esperava já há um ano. O americano dos EEUU tinha se informado lá que essa geladeira já tinha percorrido quase os aeroportos do mundo todo, mas as autoridades dos EEUU não souberam informar porque não tinha ainda chegado ao seu destino – Austrália!
Ele contou uma vez que estava em 14150 Khz, pouco depois das 13 horas, ouvindo um colega de São Paulo em contato com outro do Mato Grosso e tendo dificuldades por causa da propagação. O assunto era importante para um deles e, por isso, estavam fazendo o possível e o impossível para se comunicarem.
Ele entrou e ofereceu a sua ajuda, pois ouvia a ambos, razoavelmente. Depois de ser considerado caído do céu, passou a fazer o QSP. De repente, a coisa mudou. Ele quase não ouvia o de Mato Grosso, e o de São Paulo começava a ouvi-lo. Continuou na frequência, para o caso de ser necessário novamente. Foi aí que teve um estalo na cachola. Esperou que o assunto terminasse ( era sobre o terreno de um deles ). Nessa altura do campeonato, o sinal do PY9 para ele era daquele tipo que a gente sabe que cele está falando, mas não entende bulhufas. É só um raspadinho de nada, S-1 “abaixo de zero”. Pediu, então, ao de S. Paulo que instruisee4 o PY9 para fazer uma sintonia, a fim de que ele observasse. Ouviu, então, aquele apitinho bacana, fraquinho, mas limpo, limpo, limpo.
Comentou com o PY2: se você soubesse CW, não teriam tido esse problema todo.. Eu, disse ele, pessoalmente, por mais de uma vez tenho começado em fonia e terminado em CW, comunicados na faixa americana sobre estudantes brasileiros que lá estão e são afligidos por problemas de saúde ou acidentes, e cujos pais não podem aguentar a despesa imprevista de telefonemas interurbanos. É só a coisa arruinar, e ele dizia logo ao gringo: venha em CW QRS. O nosso colega PY2, gente boa, concordou, mas disse que ultimamente não tem tido tempo de treinar, etc. e tal. A MESMA DESCULPA DE TODOS!
Assim, fica por terra essa conversa fiada de que SSB resolve praticamente tudo o que o CW resolve, que os astronautas foram à lua e não precisaram de CW. Aliás todos os astronautas receberam treinamento de transmissão r recepção em código Morse, e os equipamentos deles eram previstos para emitir em CW, usando-se como manipulador o botão do microfone!
Suponhamos que a mensagem fosse de uma barragem arrombando, por causa de uma enchente e que fosse preciso avisar às populações ribeirinhas ameaçadas. Como é que os 2 colegas, com aquela propagação miserável, iriam se comunicar em SSB?
É preciso não esquecer que o Radioamador é, acima de tudo, um homem de emergências. Que o país confia em suas habilidades como operador. Recentemente, a FCC dos Estados Unidos emitiu um parecer destinado ao Conselho de Segurança Nacional, no qual opinava que era do interesse do país que os Radioamadores continuassem eficientes no uso da radiotelegrafia. E para se assegurar disso, exige que cada Radioamador, ao pagar sua taxa anual de fiscalização, assine uma declaração de que continua eficiente em radiotelegrafia na velocidade prevista por sua categoria. E não satisfeita chama, por sorteio, todos os anos, uma leva deles para uma verificação O México, quando aderiu, recentemente, à Convenção de Genebra, chamou todos os Radioamadores para exame de radiotelegrafia.
A ARRL, por sua vez, incentiva e ampara o CW de todas as maneiras possíveis. As transmissões da W1AW são uma maravilha: 5, 7 ½, 10 13, 15, 18, 20, 25, 30, e 35 palavras palavras por minuto, em fita perfurada, para o Radioamador ter, diariamente, textos com que se manter em forma. Realiza mais de um concurso anual em CW e dá todo apoio possível às redes de serviço em CW, inclusive, e principalmente, às redes especiais de baixa velocidade para novatos e veteranos que, por algum motivo , estiveram algum tempo fora do ar. Envia, gratuitamente, a quem solicitar, folhetos explicativos e formulários para aqueles que querem aderir a uma dessas redes. Dependendo da propagação, as transmissões da W1AW são captadas no Brasil, pelo menos aqui no Norte, em 3.580, 7080, 14.080, 21.080 e 28.080 kHz. Para os Ianques, transmite também em 50.080 145.588 kHz. Os horários mudam mensalmente, para atender às conveniências de todos os Radioamadores do Tio Sam. Moacir Porto esteve em julho de 1976, na W1Aw, e quase perdeu a fala em ver aquele arsenal de equipamentos para transmissões em 7 frequências só para ajudar a quem pratica o CW. Quando é que teremos aqui no Brasil, pelo menos um arremedo disso tudo?
É tempo de as nossas autoridades abrirem os olhos e tomarem as providencias necessárias cabíveis, começando por chamar para exames, aqueles que receberam indicativo sem esse teste ( conheço vários ). Só assim nós, cedablistas, que na realidade somos cônscios de nossas responsabilidades para com a comunidade nacional, deixaremos de ser encarados como uma minoria de idiotas apegados a uma coisa sem futuro! Acreditem se quiserem, mas muitos colegas acham que ser “Radioamador telegrafista” não é compatível com a profissão que exercem ou com posição que ocupam na comunidade. ARRE ÉGUA!
De uns tempos para cá, para alongar os QSO´s dele em CW com os nossos colegas Ianques, ele vinha dizendo a sua ocupação e perguntando as deles. Recebia as respostas as mais variadas. Profissões em que a gente nunca esperava a ver com Radioamadores, homens e mulheres, desde as mais humildes às mais altas. Isso no país de maior progresso do mundo.
Ele, pessoalmente era grande entusiasta do SSB, mas não deixava de se manter em dia com o CW, para merecer integralmente o nome de Radioamador e, também, porque é uma habilidade da qual sentia uma vaidade sadia em possuir.
Um piloto da marinha mercante disse a ele, uma vez, que uma das figuras mais admiradas e estimadas pela tripulação de um navio em alto mar era o oficial de rádio. Nas horas de folga, muitos vão à sua cabine vê-lo trabalhar. Ele tem o poder mágico de receber aquelas mensagens em código que protegem o navio da fúria do mar. Ele sabe e diz onde estão as tempestades, para que o navio mude de rota. E se uma surge de surpresa, ele é o bravo que fica em serviço permanente, debaixo de relâmpagos e raios, mantendo contato e dando sua posição aos navios mais próximos que poderão prestar socorro em caso de emergência. Cada um de nós também pode ser um bravo. Basta empregar meia hora todos os dias numa atividade que diverte, dá prazer e nos deixa menos rude!
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