Pouquíssimos brasileiros seriam contra a realização de qualquer grande evento no Brasil. Bem menos seriam aqueles contra a realização de uma Copa do Mundo. Mas há distinção extrema entre querer e alienar-se.
O primeiro grande engano seria comparar os possíveis benefícios que a realização traria ao Brasil com os que outros grandes eventos trouxeram para países ou cidades desenvolvidos. Uma comparação séria citaria ao menos a infra-estrutura que já existia em Barcelona, Los Angeles, Sidney e outras com o estado atual de Rio de Janeiro, São Paulo, Natal e outras. Superficial como é feita, seria o mesmo que comparar o nível do tênis jogado em Zâmbia com o dos americanos, apenas porque em ambos o jogo é tênis.
Serão construídos quatro estádios no mínimo e todos serão quase reconstruídos. Com a dinheirama que será despejada, e as tantas vezes mais desviadas, nenhum veículo de comunicação mencionou quantas casas populares poderiam ser construídas; quantos postos de saúde, para evitar mortes em filas; ou bibliotecas; ou quadras; quantos mamógrafos poderiam ser comprados. Ou até quantas ambulâncias, mesmo com a intervenção de parlamentares.
Uma pergunta inevitável é se esse oceano de dinheiro na Copa não traria muito mais benefícios se fosse aplicado na educação fundamental de qualidade; na educação técnica de nível médio ou em pesquisas.
Os investimentos para realização da Copa passam ao largo da grande massa. As estradas beneficiadas serão apenas as que ligam aeroportos às concentrações e grandes hotéis. Essa comparação seria descabida para a grande imprensa nacional, que nunca tem preparo, em qualquer matéria, para forçar debate que traga ao menos maior lucidez à população.
As comparações e as projeções entre o Brasil de 1950 com o de 2014 não poderiam deixar de fora os assassinatos, as favelas, a poluição dos rios, a qualidade do ensino e outros, claro que em percentuais. Além disso, pelas medidas de segurança tomadas até hoje, projetar quantos maracanãs lotados seriam assassinados até lá, tomando por base os 44.663 de 2006. Caso esse “número insignificante” não tenha sido maquiado pelos órgãos oficiais, como é praxe no Brasil.
Tudo fica à base do ufanismo notório do narrador oficial e único, que tem a cara-de-pau de agradecer pela audiência, mesmo sem nenhuma concorrência. Como vem sendo conduzida a cobertura, antes de 2014 seria preciso desfazer algumas farsas. Mas o lado carnaval brasileiro de encarar a vida não permite nem comparação. Quanto mais analfabetos, mais fome, mais novelas, mais futebol, mais audiência, mais berreiro, mais “sou brasileiro!...com muito orgulho!...com muito amor!...” E miséria!
Pedro Cardoso da Costa – Interlagos/SP
Bel. Direito
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