sábado, 21 de janeiro de 2017
A Globo já decidiu pelo fim da Lava Jato
O funeral midiático de Teori Savaski tem servido não só para render
homenagens em alguns casos sinceras ao ex-ministro, mas fundamentalmente para
dar sinais claros que a pizza do que resta da Lava Jato será servida sobre o
corpo ainda quente do antigo relator do caso.
Não interessa mais a ninguém, em especial a Globo, que a operação continue
arrastando para a cadeia a elite nacional e ao mesmo tempo acabe com o PSDB.
Mesmo que isso custe não prender Lula, que começa a se tornar a hipótese mais
plausível, mas apenas deixá-lo inelegível.
As delações da Odebrechet, Camargo Correia e quetais esquentaram demais o
jogo e avançaram para o terreno da imprevisibilidade total.
Há esquemas tucanos aos montes nessas delações e por um bom tempo havia uma
clara orientação de Marcelo Odebrechet de também tratar do esquema de propinas
da mídia. No MP, havia rejeição a inclusão deste capítulo.
O esquema de propinas com as vestais da mídia funcionava assim. A empreiteira
fazia uma grande obra. A titulo de exemplo, o Rodoanel. E o governador ficava
com um caixa para operar. O dinheiro não precisava ser depositado na conta de um
laranja, de um cunhado ou seja lá quem fosse. De repente um assessor de
confiança deste político ou o próprio ligava para o responsável pelo caixa e
dizia: faz um negócio lá com o jornalão dos fulano.
E esse dinheiro era debitado da conta.
Como a Odebrechet fazia para legalizar a propina é que o pulo do gato. Ela
publicava imensos cadernos falando de sustentabilidade e coisas do gênero. E
ainda dava um jeito de elogiar o governo do pagador da propina.
Marcelo Odebrechet tinha mandado que na delação esse esquema fosse revelado
com todas as provas. E elas eram muito claras de que não se tratava de uma
operação comercial padrão.
Quando a mídia, em especial a Globo, viu que a lama da Lava Jato poderia
atingi-la e que já partia para cima de setores como o dos frigoríficos e dos
bancos, passou-se a avaliar formas de como iniciar o fim da operação.
O leitor mais curioso deve estar se perguntando, então foi por isso que
mataram o Teori?
Por mais que a morte do ex-ministro seja absolutamente vantajosa para que
essa estratégia seja bem sucedida, um jornalista com um pingo de seriedade não
arriscaria falar isso sem provas para além de uma conversa na mesa de um bar.
Mas é óbvio que a morte de Teori ajuda em muito no enterro da Lava Jato e que
a Globo já está operando neste sentido.
Por exemplo, a declaração do ministro Marco Aurélio Mello sugerindo o nome de
Alexandre de Morais para o STF não causou espasmos dos comentadores da GloboNews
e nem nos bate-paus da mídia tradicional. Foi tratada com naturalidade como se
natural fosse para um momento desses o ministro do presidente investigado na
operação ser indicado para a vaga de relator do caso.
Alem disso, Morais não tem nenhuma das qualidades que se espera para o cargo.
Muito pelo contrário, tem um currículo marcado por denúncias, entre elas a
proximidade como advogado com cooperativas que seriam ligadas ao PCC.
É também na gestão dele no ministério da Justiça que o Brasil vive a maior
crise do seu sistema prisional.
Mas Morais tem uma qualidade de poucos. É corajoso e não dá bola para a
torcida. Se tiver que fazer algo, não se emociona com as críticas.
E é de alguém assim que o atual governo e a mídia precisam para cuidar do
enterro da operação que serviu para dar o golpe em Dilma e tornar o PT um
partido em frangalhos, que de tão perdido que está decidiu ontem que se
permitirá apoiar golpistas na eleição da Câmara e do Senado.
Morais não seria doido de enterrar a Lava Jato na primeira curva, mas
cuidaria para que houvesse tempo para a construção de alguns acordos. E quem os
conduziria seria quem tem poder hoje no país, a família Marinho. Que é quem pode
dizer a Moro e aos procuradores que o momento é de baixar a bola.
A delação da Odebrechet e da Camargo Correia ficariam um pouco no forno. E
quando viessem a público teriam tratamento frio. Sem grandes alardes para que a
investigação e os processos também fossem sendo tratados em banho maria.
E ainda restariam trunfos para 2018, quando, no momento eleitoral, partes da
denúncia poderiam ser seletivamente usadas.
Evidente que esse roteiro pode ser dinamitado pela realidade. Mas ele já vem
sendo claramente construído na narrativa do velório de Teori. É só prestar
atenção nas frases de ministros de Temer, nas análises de jornalistas que falam
pelos patrões, nas caras sérias de tucanos a avaliar o momento.
E se a morte de Teori foi ou não encomendada isso também já não interessa
tanto. Interessa dizer que ele foi um grande homem, que era sério, bom amigo etc
e tal. E ao mesmo tempo aproveitar essa oportunidade para ir colocando o barco
no rumo menos arriscado. Até porque o barco da Lava Jato já foi longe demais
para muita gente que achava que não corria o risco de ser abalroado por ele.
http://www.brasil247.com/pt/colunistas/renatorovai/276289/A-Globo-já-decidiu-pelo-fim-da-Lava-Jato.htm
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