Pedro Corrêa, do PP, relata compra de votos para aprovar emenda de reeleição em 1998
Cerveró cita esquema de propina na Petrobras durante Governo do ex-presidente tucano
GIL ALESSI
São Paulo 5 JUN 2016 - 03:28 CEST
Nos últimos dois anos a investigação da Lava Jato se concentrou nos crimes que ocorreram desde 2003, início dos Governos do PT. Mas, a força tarefa já tinha evidências que o esquema de desvio de propinas acontecia desde os anos 80, passando, portanto, pelo governo do tucano Fernando Henrique Cardoso. Em uma das delações recentes, do ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró, são descritas negociatas dos tempos do ex-presidente tucano. Em janeiro vazamento de parte das declarações de Cerveró vieram a público: nos documentos ele afirmou que durante o final do Governo do presidente tucano a Petrobras negociou a compra da Perez Companc. Os diretores da empresa teriam dito a ele que "a propina paga a Gros [Francisco Gros, então presidente da estatal] foi de grande monta (100 milhões de dólares), razão pela qual certamente foi repassada para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e ao PSDB".
T. RÊGO AG. BR.
Esta semana tornou-se público outro trecho que compromete o ex-presidente.Cerveró também afirmou em seus depoimentos que fechou contratos com uma empresa ligada a um dos filhos de FHC, Paulo Henrique Cardoso, a PRS Participações. O negócio teria ocorrido entre 1999 e 2000, e a escolha da companhia sem licitação teria sido orientada pelo então presidente da estatal, Phillipe Reichstul. Cerveró não afirmou se o presidente tucano teve alguma relação com a indicação da PRS. O filho do ex-presidente negou conhecer a empresa e afirmou não ter conhecimento dos fatos narrados pelo delator.
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Atualmente ele cumpre pena em regime semi-aberto por sua participação em outro escândalo, o mensalão. De acordo com o depoimento de Corrêa, à época houve um embate entre correligionários de FHC e aliados do então ex-prefeito da cidade de São Paulo e hoje deputado federal, Paulo Maluf(PP-SP). Segundo o delator, os dois lados se empenharam em comprar votos na Câmara. O colaborador da Justiça teria participado do episódio “mas de forma contrária, tentando alijar com propinas deputados em desfavor da emenda constitucional”. Maluf tinha alto índice de aprovação, e sonhava ocupar o Planalto – a possibilidade de FHC se reeleger era um empecilho à sua candidatura. “Maluf sabia que seu maior concorrente seria o presidente”, afirmou à força-tarefa da Lava Jato.
Para frear as pretensões do tucano, o ex-prefeito paulistano convocou deputados “para se contrapor ao Governo e também cooptar, com propina, parlamentares que estivessem se vendendo ao Governo FHC”. Segundo Corrêa, ao menos 50 colegas da Câmara foram comprados para votar a questão. Em janeiro de 1997 a matéria foi aprovada por esmagadora maioria: 336 votos a favor e 17 contra.
Em uma das passagens mais fortes de sua delação, Corrêa diz ter presenciado o banqueiro e ex-ministro Olavao Setubal, nos fundos do plenário da Câmara, dando bilhetes a parlamentares que acabavam de votar em favor da emenda, “para que estes se encaminhassem a um doleiro de Brasília e recebessem suas propinas em dólares americanos”.
À época do escândalo da compra de votos, o caso veio à tona graças areportagem da Folha de S.Paulo, que trazia gravações de conversas entre parlamentares nos quais eles diziam ter recebido 200.000 reais para votar favoravelmente à emenda. Os dois deputados flagrados nos áudios renunciaram, e o caso foi arquivado pela Procuradoria-Geral da República – cujo titular à época, Geraldo Brindeiro, tinha o apelido de engavetador-geral da República.
Em seu livro “Diários da Presidência” FHC se referiu ao episódio, e disse que se tratou de uma “questão do Congresso”. Em nota o ex-presidente afirma que “o depoente apenas repete o que foi veiculado na época e levou à renúncia de alguns dos 4 deputados citados como responsáveis por receber propinas, isso depois de investigação na Câmara”
http://brasil.elpais.com/brasil/2016/06/03/politica/1464971152_968822.html?id_externo_rsoc=FB_CM
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