Gilmar Mendes, ministro do STF, está indignado com o vazamento para a imprensa de possíveis mandatos de prisão de quatro caciques do PMDB. Esbravejou e vociferou como é de seu estilo. Disse que o responsável está cometendo crime.
Interessante. Gilmar Mendes nunca se indignou com todos aqueles vazamentos ocorridos desde 2014 na Operação Lava Jato. Nunca ninguém o viu dizer que eram ilegais, que corriam em segredo de Justiça, que colocavam em risco o andamento das investigações.
Ninguém viu Gilmar incomodado com o vazamento para a imprensa de que o ex-presidente Lula seria levado coercitivamente a depor em São Paulo, mesmo jamais tendo se negado a prestar esclarecimentos à Justiça sobre qualquer questão.
E bem cedo lá estavam os repórteres da Globo de plantão na frente do prédio quando Lula foi levado, e os brasileiros ouviram durante dias nos horários nobres, exaustivamente a mesma notícia, apesar de nada de novo ter sido apurado.
Ninguém viu Gilmar criticar a decisão de Moro de tornar público os grampos com diálogos de Dilma Rousseff e do ministro Jaques Wagner com Lula. E a maneira como o conteúdo foi utilizado pela imprensa e seus resultados certamente não desagradaram o ministro do STF.
Eu poderia citar aqui inúmeras ocasiões em que vazamentos contribuíram para botar lenha na fogueira do processo de impeachment, e na infame campanha de desmoralização de Dilma, Lula e do PT.
O que importa neste momento esclarecer, no entanto, é por que antes não, mas agora sim, Gilmar está tão indignado com o vazamento dos pedidos de prisão do presidente do Senado, Renan Calheiros, do senador e ex-ministro Romero Jucá, do presidente afastado da Câmara Eduardo Cunha e do ex-presidente da República José Sarney?
Gilmar não atacou diretamente o Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, que segundo O Globo e o Estadão enviou os pedidos ao STF há uma ou duas semanas. Indagado pela imprensa, Janot foi curto e grosso: não confirmo nada.
Gilmar qualificou o vazamento como "brincadeira" e "abuso de autoridade" com o STF, e alfinetou: "é preciso ter muito cuidado com isso, é processo oculto, pede-se sigilo, e quem estiver fazendo isso está cometendo crime".
Vazamento de processo ou inquérito que corre em segredo de Justiça é procedimento ilegal, sim. Todos eles, não apenas os que se referem a políticos do círculo de influência de ministros do STF.
Portanto Gilmar Mendes deveria ter a postura de um ministro da Suprema Corte de um país sério e democrático, ser ético e imparcial, defender a todos sem lado e sem preferências, como se brasileiros, irmãos e iguais fossem.
http://www.brasil247.com/pt/colunistas/chicovigilante/236958/Gilmar-agora-se-incomoda-com-vazamentos-antes-n%C3%A3o.htm
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