sexta-feira, 20 de janeiro de 2017
Quem matou Teori Zavascki…
Morreu nesta quinta-feira (19), aos 68 anos de idade, o ministro do STF
(Supremo Tribunal Federal) Teori Zavascki após a queda de uma aeronave em
Paraty, litoral do Rio de Janeiro. A informação da morte foi confirmada pelo seu
filho Francisco Zavascki.
O Brasil e a humanidade devem lamentar a morte de um homem honesto e corajoso
que não teve medo de contrariar ninguém, nem gregos nem troianos, ainda que
tenha sido acusado de postergar decisões contra Eduardo Cunha.
O avião no qual Teori foi acidentado era um Hawker Beechcraft King Air C90
prefixo PR-SOM pertencente o grupo Emiliano Empreendimentos.
Trata-se de um excelente avião. É o único bimotor pequeno que o serviço
secreto norte-americano autoriza o presidente dos Estados Unidos a usar. E é
muito improvável que um ministro do STF se metesse em um avião em condições
duvidosas de manutenção.
Zavascki era o relatar da Lava Jato no STF. Decidia quem seria investigado ou
não. Processado ou não. Condenava, absolvia, ainda que sujeito a ter suas
decisões alteradas pelo colegiado. Porém, sem andamento de Teori, nada andava
para políticos com foro privilegiado.
Antes que algum espertinho tente vender a tese de que o PT está por trás de
tudo isso, é bom que saibam que Lula não tem foro privilegiado e, assim, não
seria julgado pelo STF antes de passar por pelo menos duas instâncias da Justiça
comum.
Na verdade, os investigados pela Lava Jato que estavam ameaçados pelo STF são
justamente os que têm mandatos e ou cargos públicos importantes, como deputados,
senadores, presidente da República e ministros de Estado.
Teori estava para homologar dezenas e dezenas de acordos de delação premiada
de funcionários da Odebrecht contra alvos que até aqui não vinham sendo
incomodados. Os nomes de tucanos graúdos apareceram justamente nas delações da
Odebrecht, mas o principal nome envolvido nas delações que Teori iria analisar é
o do presidente da República.
O nome do presidente Michel Temer aparece 43 vezes no documento do acordo de
delação premiada de Cláudio Melo Filho, ex-vice-presidente de Relações
Institucionais da Odebrecht.
O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, é mencionado 45 vezes e Moreira
Franco, secretário de Parceria e Investimentos do governo Temer, 34.
O ex-ministro Geddel Vieira Lima, que pediu demissão recentemente, surge em
67 trechos.
O líder do governo no Congresso, Romero Jucá (PMDB-RR), apontado como o
“homem de frente” das negociações da empreiteira no Congresso, tem 105 menções
no relato, um arquivo preliminar, ao qual a Folha teve acesso, do que o
ex-executivo vai dizer em depoimento às autoridades da Lava Jato.
De acordo com Melo Filho, o presidente Temer atua de forma “indireta” na
arrecadação financeira do PMDB, mas teve papel “relevante” em 2014, quando,
segundo ele, pediu R$ 10 milhões a Marcelo Odebrecht para a campanha eleitoral
durante jantar no Palácio do Jaburu, em maio de 2014.
Segundo o delator, Temer incumbiu Padilha de operacionalizar pagamentos de
campanha. O ministro, diz o ex-executivo, cuidou da distribuição de R$ 4 milhões
daqueles R$ 10 milhões: “Foi ele o representante escolhido por Michel Temer
–fato que demonstrava a confiança entre os dois–, que recebeu e endereçou os
pagamentos realizados a pretexto de campanha solicitadas por Michel Temer. Este
fato deixa claro seu peso político, principalmente quando observado pela ótica
do valor do pagamento realizado, na ordem de R$ 4 milhões”.
“Chegamos no Palácio do Jaburu e fomos recebidos por Eliseu Padilha. Como
Michel Temer ainda não tinha chegado, ficamos conversando amenidades em uma sala
à direita de quem entra na residência pela entrada principal. Acredito que esta
sala é uma biblioteca”, disse o delator, que conta detalhes do jantar.
“Após a chegada de Michel Temer, sentamos na varanda em cadeiras de couro
preto, com estrutura de alumínio. No jantar, acredito que considerando a
importância do PMDB e a condição de possuir o Vice-Presidente da República como
presidente do referido partido político, Marcelo Odebrecht definiu que seria
feito pagamento no valor de R$ 10 milhões”, diz.
“Claramente, o local escolhido para a reunião foi uma opção simbólica voltada
a dar mais peso ao pedido de repasse financeiro que foi feito naquela ocasião.
Inclusive, houve troca de e-mails nos quais Marcelo se referiu à ajuda definida
no jantar, fazendo referência a Temer como ‘MT'”, ressalta o ex-executivo da
Odebrecht.
Um dos endereços de entrega foi o escritório de advocacia de José Yunes,
atual assessor especial da Presidência da República.
Segundo o delator, “o atual presidente da República também utilizava seus
prepostos para atingir interesses pessoais, como no caso dos pagamentos que
participei, operacionalizado via Eliseu Padilha”.
O delator disse que foi apresentado a Temer por Geddel em agosto de 2005 na
festa de aniversário de seu pai.
Ao se referir ao ministro Padilha, ele afirma que o hoje ministro “atua como
verdadeiro preposto de Michel Temer e deixa claro que muitas vezes fala em seu
nome”, disse Melo Filho.
“Eliseu Padilha concentra as arrecadações financeiras desse núcleo político
do PMDB para posteriores repasses internos”, afirmou.
A relação entre os quatro caciques peemedebistas é muito forte, segundo o
delator, “o que confere peso aos pedidos formulados por eles (ministros), pois
se sabe que o pleito solicitado em contrapartida (pela empresa) será atendido
também por Michel Temer”.
“Geddel Vieira Lima também possui influência dentro do grupo, interagindo com
agentes privados para atender seus pleitos em troca de pagamentos”, disse o
delator.
Melo Filho afirmou que defendia “vigorosamente” as solicitações de pagamento
feitas por Geddel junto à Odebrecht “como retribuição” pelo fato de o
ex-ministro lhe aproximar das outras lideranças.
Sobre Jucá, ele declarou que um “exemplo” da força dele é “encontrado no fato
de que o gabinete do Senador sempre foi concorrido e frequentado por agentes
privados interessados na sua atuação estratégica”.
Todos os citados têm negado qualquer irregularidade na relação com a
Odebrecht.
POLÍTICOS NA MIRA DA ODEBRECHT
Alguns dos citados em delação premiada de Cláudio Melo Filho, ex-executivo da
empreiteira
MICHEL TEMER Ex-executivo disse que parte de valor prometido ao PMDB em 2014
foi entregue em dinheiro no escritório de José Yunes, amigo do presidente
RENAN CALHEIROS (PMDB-AL) O presidente do Senado recebeu o apelido de
‘Justiça’ na lista de codinomes da empreiteira
RODRIGO MAIA (DEM-RJ) Presidente da Câmara dos Deputados teria recebido R$
100 mil; seu codinome era ‘Botafogo’
ELISEU PADILHA (PMDB-RS) O ministro-chefe da Casa Civil de Michel Temer seria
o ‘Primo’ na lista da empreiteira baiana
MOREIRA FRANCO (PMDB-RJ) Secretário-executivo do Programa de Parcerias de
Investimentos, seria o ‘Angorá’ das planilhas
ROMERO JUCÁ (PMDB-RR) Senador e ex-ministro, seria o ‘Caju’
EUNÍCIO OLIVEIRA (PMDB-CE) Senador, apelidado de ‘Índio’
GEDDEL VIEIRA LIMA (PMDB-BA) Ex-ministro da Secretaria de Governo, apelidado
de ‘Babel’
EDUARDO CUNHA (PMDB-RJ) Ex-presidente da Câmara e ex-deputado, seria
‘Caranguejo’
JAQUES WAGNER (PT-BA) Ex-ministro-chefe da Casa Civil de Dilma, seria o
‘Polo’*
DELCÍDIO DO AMARAL (ex-PT-MS) O ex-senador aparecia nas planilhas como
‘Ferrari’
INALDO LEITÃO (PB) Ex-deputado, o ‘Todo Feio’ teria recebido R$ 100 mil
AGRIPINO MAIA (DEM-RN) Empresa teria destinado ao senador R$ 1 milhão
DUARTE NOGUEIRA (PSDB-SP) ‘Corredor’ aparece como beneficiário de R$ 350 mil
LÚCIO VIEIRA LIMA (PMDB-BA) Deputado, seria o ‘Bitelo’
FRANCISCO DORNELLES (PP-RJ) Vice-governador do Rio, seria o ‘Velhinho’ nas
planilhas
ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB) Prefeito de Manaus teria recebido R$ 300 mil
CIRO NOGUEIRA (PP-PI) Senador seria o ‘Cerrado’
HERÁCLITO FORTES (PSB-PI) Deputado, seria o ‘Boca Mole’ e teria recebido R$
200 mil
GIM ARGELLO (DF) Ex-senador é o ‘Campari'; teria faturado R$ 1,5 mi
PAES LANDIM (PTB-PI) Deputado, seria o ‘Decrépito’, teria levado R$ 100 mil
ANDERSON DORNELLES Ex-braço direito de Dilma, seria o ‘Las Vegas’
LÍDICE DA MATA (PSB-BA) Senadora, seria a ‘Feia'; teria recebido R$ 200 mil
JOSÉ CARLOS ALELUIA (DEM-BA) Deputado teria recebido R$ 300 mil e seria o
‘Missa’
Agora adivinhe, leitor, quem vai tomar o lugar do falecido Teori. Um novo
ministro do STF, indicado pelo presidente da República, Michel Temer.
*
PS: Um dos principais investigadores da Operação Lava Jato, o delegado
federal Marcio
Adriano Anselmo pediu a investigação “a fundo” da morte do ministro
Teori Zavascki na véspera da homologação da colaboração premiada da Odebrecht.
“Esse ‘acidente’ deve ser investigado a fundo”, escreveu em sua página no
Facebook, destacando a palavra “acidente” entre aspas.
http://www.brasil247.com/pt/colunistas/eduardoguimaraes/275994/Quem-matou-Teori-Zavascki%E2%80%A6.htm
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