Do BR2pontos.com - O presidente Michel Temer precisa se decidir, uma vez que o discurso com dois pesos e duas medidas está chamando a atenção, negativamente, do mercado. Diante da estatal Petrobras, símbolo da ingerência política do PT na administração da maior empresa brasileira, Temer prega o direito à autonomia de seus dirigentes.
Mas para a privatizada Vale, que sob a gestão do técnico Murilo Ferreira vai se mantendo blindada a ingerências políticas e incólume a escândalos administrativos, o presidente mostra a sua outra face.
Sob pressão de ninguém menos que os senadores Renan Calheiros e Romero Jucá, políticos do PMDB de Minas Gerais, com o deputado Augusto Quintela à frente, Temer deu sinal verde para a abertura da temporada de caça ao cargo de Ferreira. Não importa, nesse caso, que a empresa se mostre em franca recuperação financeira e ausente das manchetes negativas.
O movimento já preocupa analistas do mercado financeiro e pode comprometer a escalada de valorização que a Vale vai obtendo neste ano.
PAPEIS DA VALE SOBEM PERTO DE 100% NO ANO
De todos os tamanhos, os investidores que compraram papeis da Vale só tem motivos para estar satisfeitos com a atual gestão. A ação preferencial da companhia abriu o ano, na Bolsa de Valores de São Paulo, valendo R$ 10,00, em 4 de janeiro. Ontem, após ter registrado a maior alta do pregão, de 2,84%, os papeis da mineradora passaram a valer R$ 19,17. Estão muito perto de atingir, assim, uma valorização de 100% em menos de 11 meses. A expectativa é a de que a alta de três dígitos seja alcançada já na virada do mês, em razão da alta, no mercado internacional, do preço do minério de ferro, principal produto da Vale. No mesmo período, a alta do índice Bovespa, com a média de ganhos e perdas de todas as companhias listadas, foi de 64%.
O fato de a Vale estar indo de vento em popa apenas aumentou o apetite dos peemedebistas sobre a companhia. Não há argumentos técnicos. Apenas um mantra político, repetido pelo deputado Augusto Quintella (PMDB-MG) nos bastidores do poder: "Murilo Ferreira representa Dilma e Lula na Vale", insiste ele. De fato, o atual presidente foi indicado pela presidente alvo de impeachment, mas Ferreira, sempre visto como um nome técnico, ganhou a confiança do mercado ao fazer uma gestão profissional e com alvo nos resultados.
Privatizada em 1997, no governo Fernando Henrique, a Vale tem participação acionária do governo inferior a 6%. No entanto, com 12 golden shares em seus cofres, o governo garantiu o privilégio de interferir na vida cotidiana da companhia, até mesmo na escolha do seu presidente.
RENAN, JUCÁ E QUINTELA UNIDOS CONTRA FERREIRA
Para atender ao apetite político do PMDB, os nomes trabalhados nos bastidores são os dos ex-diretores Tito Martins e José Carlos Martins, ambos dos tempos da gestão de Roger Agnelli. Eles surfaram uma onda favorável no mercado internacional, com altas diárias e constantes quebras nos recordes de preços do minério de ferro. Ferreira, ao contrário, assumiu durante as vacas magras no comércio mundial de commodities. Para trazer a Vale até sua atual posição cobiçada, ele executou um complexo programa de venda de ativos e formação de novas parcerias, apontando a mineradora, agora, para novos tempos de crescimento.
Em evento no Rio de Janeiro, ontem, Temer elogiou publicamente o presidente da Petrobras, Pedro Parente, por sua 'gestão equilibrada' à frente da estatal. Ao nomeá-lo, no início deste segundo semestre, logo após assumir o cargo, Temer garantiu que não ocorreriam mais ingerências políticas sobre a estatal.
É justamente abrir as porteiras da Vale para todo o tipo de influência política que Temer vai acabar permitindo se as manobras de Renan, Jucá e Quintela tiverem sucesso. Por frágil e contraditório, o discurso de Temer que serve para a Petrobras, mas não é útil para a Vale, está pegando mal.
http://www.brasil247.com/pt/247/economia/262172/Privatista-na-Petrobras-Temer-%C3%A9-estatizante-na-Vale-para-atender-PMDB.htm
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