Ando sem tempo para escrever, pois as atividades do judiciário estão
realmente sugando toda a minha energia e disposição. Não me queixo do tipo
de trabalho, mas das condições que amargamos, com pouquíssimo pessoal.
Hoje entendo porque a maioria das pessoas que lá se encontram espera
ansiosamente pela aposentadoria. Às vezes, o inferno pode não ser tão
longe quanto muitos imaginam. A propósito, mencionando o inferno, queria
ressaltar que a cada dia me convenço mais que alguns tinham razão quando
diziam que os homens se servem de Deus e não servem a Deus. É
impressionante! Testemunho dia a dia que muitos dão ao Senhor a roupagem
que lhes parece melhor. A quem convém é um Deus castigador ou Pai
misericordioso ou uma Fonte inesgotável de riquezas e bênçãos. Há quem
pense que Deus seja um negociador ou um camaleão que troca de princípios
dependendo dos fiéis que deseja arrebanhar. Percebo com pesar que, hoje em
dia, cada qual cria a religião de seu interesse, e isso já começa no
título que se dá à igreja. Encontramos todas as denominações possíveis e
imagináveis. Temos um Deus realmente eclético e popular.
Enquanto isso, cada qual vai fazendo o que bem entende, pois, em última
instância, Deus sempre perdoa. Continua a exploração do pobre pelo
afortunado, a dominação do fraco pelo forte, o massacre de milhares de
inocentes pela ganância de alguns. Vejo que o tempo passa e pouca coisa
muda, porque o ser humano resiste a uma transformação essencial. A sede de
poder e a ambição desmedida continuam a guiar os passos da maioria das
pessoas. Se quem está embaixo tem a chance de se elevar, pronto, começa
tudo de novo. Quem antes era tiranizado agora tiraniza, num evidente
circulo vicioso. Isso acontece porque ainda estamos dormindo. Não
acordamos para a realidade da existência, segundo a qual as obras
espirituais são superiores às materiais, ainda que estas sejam mais
visíveis e palpáveis.
Como disse Santo Agostinho em certo trecho de sua obra Confissões: “A
comida que se toma em sonhos, não obstante ser muito semelhante à do
estado de vigília, não alimenta os que dormem, porque estão dormindo”.
Sim, estamos dormindo. Não conseguimos enxergar o que é real; tão imersos
estamos em nossos sonhos de autossuficiência. O amor é real, mas
infelizmente não amamos. Nós matamos a cada dia as possibilidades de amor,
toda vez que subtraímos do próximo a sua oportunidade de ser feliz,
negando-lhe o reconhecimento de sua importância neste mundo simplesmente
por ignorá-lo, assim como às suas necessidades mais básicas.
Precisamos acordar! Deus é para todos e não somente para alguns. As leis
são para todos, os recursos naturais são para todos. Por que muitos
agonizam enquanto outros se empanturram? Será justo isso? O verdadeiro
Deus não serve a conveniências, mas tudo observa; tudo vê, pois não está
dormindo como nós. Quem tiver ouvidos, ouça! Quem tiver olhos, veja! Ainda
há tempo de uma profunda conversão para aqueles que realmente a desejam.
Maria Regina Canhos Vicentin
(e.mail: contato@mariaregina.com.br) é
escritora.
Acesse e divulgue o site da autora: www.mariaregina.com.br.
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