Josias de Souza.
O Carnaval ofereceu a Michel Temer uma valiosa oportunidade para a reflexão.
A quarta-feira reserva ao presidente muitas cinzas. Temer terá de decidir se vai
eliminar ou acentuar o contraste que se estabeleceu entre as áreas econômica e
política do seu governo. Na economia, Temer celebra os números que apontam,
timidamente, os resultados de uma gestão que tenta tirar o país do buraco. Na
política, o presidente tolera e até participa de uma movimentação que aprofunda
o abismo moral em que o Brasil está metido. O primeiro dilema que Temer precisa
encarar envolve o ministro Eliseu Padilha. Demitir ou não demitir o chefe da
Casa Civil?, eis a questão.
Nos últimos dias, Temer e o ministro Henrique Meirelles, da Fazenda, se
esforçam muito para convencer os aliados do governo no Congresso e toda a
plateia de que a página da recessão foi virada. Os números mais recentes do IBGE
sobre o desemprego recomendam calma. Há mais de 12 milhões de desempregados no
país. Um em cada cinco desses trabalhadores está sem contracheque há mais de
dois anos. Uma situação como essa não se reverte do dia para a noite. Leva
tempo.
Temer precisa resolver o drama hamletiano do seu governo, momentaneamente
personificado em Eliseu Padilha. Sob pena de permitir que a podridão política
contamine a economia. O presidente não pode mais assistir à carnavalização
política do seu governo com o distanciamento de um observador neutro, como se
nada fosse com ele. Depois que seu amigo José Yunes acusou seu outro amigo
Eliseu Padilha de lhe enviar um pacote tóxico por meio do doleiro Lúcio Funaro,
tudo passou a ser com Michel Temer. De volta do descanso do Carnaval, o
presidente terá de informar se tem condições de se afastar do bloco de sujos.
http://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/2017/02/27/abismo-moral-atrapalha-a-estrategia-economica/
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