Eventos extremos como as inundações na Ásia, os incêndios florestais na Europa e a seca no Centro-Oeste brasileiro indicam que o aquecimento global já começa a mexer com o clima em todo o planeta
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CONTENÇÃO
Russos tentam deter incêndio. Temperaturas no país são as mais altas em 130 anos
Nos próximos meses, os cientistas do clima vão trabalhar intensamente para provar se há ou não ligação entre os eventos climáticos extremos deste ano. Nas últimas semanas, a Rússia sofre com centenas de focos de incêndio, por causa das maiores temperaturas desde que começaram as medições, em 1880. Se no inverno o frio chegou a -26oC, este verão tem alcançado os 39oC. Enquanto isso, o Paquistão tem um quarto do seu território alagado.
As monções, fortes chuvas características dessa época, foram reforçadas por uma zona de baixa pressão, que fez das precipitações as piores desde 1929 e deixaram seis milhões de desabrigados. Na China, deslizamentos de terra mataram mais de mil pessoas.
Embora alguns possam julgar que é cedo para afirmar que os eventos estão diretamente conectados, o fato de terem se seguido a outros neste ano tem feito muitos cientistas deixarem a cautela de lado para culpar diretamente o aquecimento do planeta. “Eventos extremos vêm ocorrendo com maior frequência e, em muitos casos, com maior intensidade”, disse Jay Lawrimore, do Centro Nacional de Dados Climáticos de Asheville (EUA) ao jornal “The New York Times”.
Quanto ao calor e à chuva, é possível que eles tenham sido causados por uma corrente de ar que circula em grandes altitudes. A ligação entre alta temperatura e precipitação é simples de entender: quanto mais calor, mais água é evaporada. Estudos indicam que, para cada grau de aquecimento, mais 7% de água fica disponível para as massas de ar que geram as chuvas.
FUGA
Mais de seis milhões ficaram sem casa no Paquistão depois de fortes chuvas
Este é o ano mais quente em mais de um século, numa década recheada de eventos extremos. Em 2003, 70 mil pessoas morreram na Europa por causa do calor. Dois anos depois, Nova Orleans, nos EUA, foi devastada por um furacão. Em 2007, queimadas na Grécia quase destruíram a cidade histórica de Olímpia. Ainda naquele ano, a chamada Passagem Noroeste, no Ártico, ficou sem gelo pela primeira vez na história. No ano passado, incêndios na Austrália mataram centenas de pessoas. No Brasil, na virada do ano e em abril, chuvas causaram deslizamentos no Rio de Janeiro e destruíram cidades do Nordeste.
Na semana passada, o tempo seco causou queimadas em diversos Estados. As mudanças climáticas fizeram com que a estação seca, que durava de julho a setembro, tenha se estendido até outubro. “O que vemos agora é consequência de um aquecimento de apenas 0,8oC”, escreveu no jornal britânico “The Guardian” Stefan Rahmstorf, coautor do livro “The Climate Crisis” (sem tradução no Brasil). “Se nada for feito, até o fim do século os termômetros subirão até 7oC.” Que os últimos eventos sirvam de alerta.
Julio Barone Neto
jbaronen@uol.com.br