247 – A presidente eleita e deposta pelo golpe, Dilma
Rousseff, questionou o silêncio da mídia sobre a declaração que Michel Temer fez
em entrevista à TV Bandeirantes na noite do sábado 15, quando admitiu que a
abertura do processo de impeachment contra ela se deu por motivo de chantagem de
Eduardo Cunha, então presidente da Câmara dos Deputados.
"Em qualquer lugar do mundo, esta é uma declaração que enseja a
característica de desvio de finalidade do impeachment, disse Dilma, após
descrever a frase de Temer na entrevista, durante palestra na Howard University,
em Washington, nos Estados Unidos. "Um presidente da República aceitando que era
normal a chantagem. Que se tivéssemos cedido a ela, eu ainda estaria na
presidência. Pergunto eu: algum impresso registrou essa denúncia feita em canal
aberto de televisão? Ninguém! Só a rede social", completou.
As declarações sobre a entrevista de Temer foram feitas logo após Dilma ter
dito que a "mídia no Brasil é oligopolizada". "Enquanto você oligopoliza a
opinião pública, a democracia fica comprometida", afirmou, destacando o papel
das redes sociais.
Na entrevista, Temer conta que Cunha só aceitou o processo de impeachment
contra Dilma porque o PT não aceitou votar em favor do deputado no processo do
Conselho de Ética que poderia cassar seu mandato. "Algum impresso registrou essa
denúncia feita em canal aberto de televisão? Ninguém!", denunciou Dilma, sobre o
silêncio da mídia.
"Vejam vocês. Aceitar uma chantagem é algo que é incompatível com a ética.
Principalmente nesse sentido de 'vamos salvar uma pessoa que não deve ser salva
para manter a presidente'. E ele ainda lamentou dizendo 'eu queria que
aceitasse'", prosseguiu Dilma, em tom de incredulidade. "Porque quando ele fez
isso estava em curso já o golpe", completou.
Para ela, a fala de Temer "é eivada da pós-verdade". "No Brasil hoje impera a
pós-verdade", constatou. Em seguida, na palestra que tinha como tema os desafios
da democracia brasileira, a presidente deposta destacou como "fundamental a
democracia" e ainda a reforma do sistema político no Brasil. Ela defendeu a
criação de uma constituinte exclusiva para a reforma. "Isso é crucial para a
próxima etapa", ressaltou.
Sobre 2018, ela disse ser "crucial também que não mudem as regras do jogo,
como decidir que presidente eleito duas vezes não pode se eleger novamente.
Podem até mudar essa regra, mas não para a próxima eleição". Dilma se referia ao
ex-presidente Lula, que deve se candidatar para o próximo pleito.
Numa comparação entre Eduardo Cunha e o presidente dos Estados Unidos, Donald
Trump, Dilma Rousseff disse achar "Cunha pior do que Trump". "Ele é de
extrema-direita, bastante conservador, é ultraneoliberal em economia e é uma
pessoa dada a práticas questionáveis", descreveu o articulador do golpe,
exatamente um ano depois da votação que deu início ao processo que culminou em
seu afastamento do Palácio do Planalto.
http://www.brasil247.com/pt/247/poder/290844/Dilma-questiona-sil%C3%AAncio-da-m%C3%ADdia-em-confiss%C3%A3o-de-Temer-sobre-o-golpe.htm
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